O Brasil está desperdiçando talentos? O impacto da falta de investimento no esporte

O Brasil está desperdiçando talentos? O impacto da falta de investimento no esporte

9 de April de 2025 0 By gobici

O Brasil tem potencial para se tornar uma referência esportiva mundial. Do futebol ao ciclismo, da natação ao atletismo, o talento corre nas veias do nosso povo. No entanto, talento por si só não é suficiente para transformar atletas em campeões. O investimento contínuo em esportistas deve ser encarado como um pilar estratégico para o desenvolvimento social e econômico do país.

Nos últimos 20 anos, o Brasil destinou aproximadamente R$ 43,4 bilhões aos esportes olímpicos. Esse investimento tem gerado retornos concretos, ainda que o país não esteja no topo do quadro de medalhas das Olimpíadas. A indústria do esporte movimenta cerca de R$ 31 bilhões por ano no Brasil, representando 3,3% do PIB nacional. Esses números evidenciam que o esporte não é apenas uma questão de lazer ou entretenimento, mas um setor econômico com grande potencial de crescimento.

Apesar desses investimentos, o Brasil ainda enfrenta desafios na formação de novos talentos. A caminhada dos jovens atletas, infelizmente não é das tarefas mais fáceis. Atletas mirins do BMX Racing, como exemplo, Manu Ramos (10 anos) e Andrey Toledo (10 anos) desafiam limites para conquistar seu espaço, mesmo com resultados expressivos a nível mundial. A falta de incentivo às categorias femininas obriga Manu Ramos, jovem atleta da Ursofrango Team, a competir contra atletas mais velhas ou até mesmo meninos. “A Manu enfrenta, no BMX, dificuldades para encontrar campeonatos em suas categorias por falta de incentivo às atletas, tendo às vezes que disputar contra corredoras de uma categoria acima ou contra atletas masculinos”, explica Nath Ramos, mãe da atleta.

O problema não é apenas a falta de investimento, mas a forma como ele é distribuído. Grande parte dos recursos vai para modalidades e atletas já estabelecidos, enquanto jovens promessas enfrentam dificuldades desde a base. Sem um sistema que garanta a continuidade do suporte desde os primeiros passos até o alto rendimento, o país continuará desperdiçando talentos. O verdadeiro desafio não é apenas investir mais, mas investir melhor, criando um modelo sustentável que permita que atletas prosperem a longo prazo. “O Brasil tem potencial para se tornar uma referência esportiva mundial. No entanto, talento por si só não é suficiente para transformar atletas em campeões. O investimento contínuo em esportistas deve ser encarado como um pilar estratégico para o desenvolvimento social e econômico do país”, conta Stefan Santille, fundador do projeto de aceleração de jovens atletas Ursofrango.

Andrey Toledo, tri-campeão brasileiro de BMX Racing

Programas como o Bolsa Atleta, criado em 2005, já destinaram mais de R$ 1,5 bilhão, beneficiando cerca de 30 mil atletas brasileiros. Essa iniciativa prova que o investimento público pode garantir que talentos tenham condições de competir em alto nível. Mas é preciso ir além e criar um ecossistema que envolva não só o apoio governamental, mas também o investimento privado e o engajamento da sociedade.

O impacto do investimento esportivo ultrapassa os limites das competições. Cidades que incentivam o esporte registram quedas de até 30% nos índices de violência juvenil e reduções expressivas em custos com saúde e segurança pública. Estudos apontam que para cada R$ 1 investido em programas esportivos para jovens, há uma economia de até R$ 3 nesses setores. Isso mostra que o incentivo ao esporte é um fator de transformação social de longo prazo.

O Brasil não pode mais adiar essa discussão. Governos e empresas precisam enxergar o esporte como uma ferramenta estratégica de desenvolvimento. Como empresário do setor, vejo diariamente o impacto do investimento esportivo na vida de jovens talentos. E se quisermos transformar nossa paixão pelo esporte em conquistas reais, precisamos agir agora.